Fátima Santiago, 53 anos, trinta dos quais dedicados à escultura, mineira natural de Pompéu e radicada em Belo Horizonte, há vários anos conviveu com conceituados professores-artistas.Ela foi aluna de Fabrício Fernandino e Selma Weissmann, freqüentou a Fundação Escola Guignard dos tempos do Parque Municipal, a Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais e vários ateliês livres. Dublê de dentista e artista plástica, depois de dedicar-se em tempo integral à criação dos dois filhos e à odontologia, Fátima retoma sua trajetória de escultora em grande estilo. Apesar de perceptíveis diferenças técnicas e de materiais, seus novos trabalhos se assemelham pelas linhas, e ao mesmo tempo são delimitadores de espaços recorrentes do neoconcretismo.O objeto de suas propostas são chapas de aço inox ou oxidadas. São chapas planas, estáticas, sendo característica da chapa oxidada sofrer alteração externa com o tempo, o que não acontece com o inox.O encanto emerge frente à possibilidade de - a partir de uma interferência intencional, exercida num material inerte - sugerir movimento, sensualidade e demais emoções, que podem emergir na comunicação e na interação com o observador. Inicialmente planas, agora com curvas estruturalmente organizadas, as obras conseguem passar ao espectador a sensação de volume, e antes de tudo, tridimensionalidade. A respeito de sua fase atual, assim se expressa Fátima Santiago: "A minha intenção ao escolher chapas tão divergentes e com destinos tão específicos é de, submetendo-as ao mesmo processo de trabalho e trazendo-as para um lugar comum, possibilitar a elas tocarem de forma semelhante a sensibilidade e o olhar das pessoas. "Quando me proponho ao uso de chapas múltiplas, unidas por pontos de solda, pretendo obter volume, sem perder a mobilidade física", explica ela. "Utilizo formas onduladas para expressar a feminilidade, a sensibilidade e a sensualidade do mundo. Não vejo isto como uma figuração específica, mas a forma de materializar características femininas". A recente seleção de um dos projetos de Fátima Santiago para criar uma escultura que marcasse os 90 anos do bondinho do Pão de Açúcar, corrobora a trajetória desta artista belo-horizontina, ainda pouco conhecida pelo público, mas tida em alta conta pela crítica especializada. Sem dúvida, trata-se dum talento em evolução e uma surpresa agradável, dentre os que trafegam pela escultura contemporânea.~Morgan da Motta - Jornalista Crítico de Arte